Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Altino Caixeta de Castro

Porque vim
Não vim para cantar. Se cheguei tarde
não vim para cantar.
Cheguei tarde porque deixei na estrada sem lua
a minha boca torturada sem rumo e sem canção.
Não vim para dizer. Se cheguei tarde
não vim para dizer.
Cheguei tarde porque tudo está falado.
Não vim para chorar.
Porque a lágrima ficou estúpida
na pálpebra doirada.
Também não vim para sorrir.
Porque o sorriso ficou nos beiços dos carneirinhos
que minha mãe me deu nos currais de meu pai.
Também não vim para sofrer.
Inútil indagar porque cheguei.
Eu vim, apenas, para ser chegado.

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