Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Avant Première

fosse um deus

josé carlos peliano 

fosse um lagarto subiria os muros e mais acima em cada dia
sem correr atrás de insetos e fungos das plantas e do barro
deixaria as patas levitarem soltas em balé desnorteado
voaria em transe assimétrico com o rabo de frenético colibri

fosse um colibri desceria ao chão pelos troncos em cada bosque
deixaria flores de lado e sugaria as bocas de lesmas e caramujos
faria das asas patas pensas em correrias cambaleantes
apressaria em arrancos as penas de lagarto imaginário

fosse um desenhista aprontaria mundos e seres impensáveis
viraria de avesso a frente, o verso e a seiva do labirinto
até que não conseguisse mais ver a mim nos espelhos
coisas e seres seriam seres e coisas com a face do éden

mas de olhar distinto ao ver de si com o olhar do outro

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