Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Cesar Vallejo

Até o dia em que volte*

Até o dia em que volte, desta pedra
terei meu calcanhar definitivo,
com seu jogo de crimes, suas heras,
sua obstinação dramática, e oliveiras.

Até o dia em que eu volte, prosseguindo,
com franca retidão de coxo amargo,
de poço em poço, em meu périplo, entendo
que o homem, sem embargo, há de ser bom.

Até o dia em que volte e que caminhe
este animal que sou, entre seus juízes,
nosso bravo mindinho, será grande,
digno, infinito dedo entre meus dedos.

(*tradução de Thiago de Mello)

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