Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Paulo Leminski

O que quer dizer  
O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
O que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
Coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
O que, um disse, se disse,
Um dia, vai ser feliz.
................................
pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
Razão de Ser  
Escrevo porque preciso,
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?  
Datilografando este texto


ler se lê nos dedos
não nos olhos
que os olhos são mais dados
a segredos

.........................

O amor, esse sufoco,
Agora há pouco era muito,
Agora, apenas um sopro
Ah, troço de louco,
Corações trocando rosas,
E socos.
.............................
o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado  
A lua no cinema  
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!



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