Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ciro José Tavares

Aqua Iris
Que estranho silêncio
à tua vinda quase sempre ocorre.
Se chegas tarde ou cedo,
vens, muitas vezes, triste,
fria, indiferente.
Que misteriosa solidão
à tua permanência quase sempre ocorre.
Talvez porque cantas, horas,
a mesma monocórdica canção,
intempestiva, titânica,
pouco a pouco adágio.
Final frágil como um fio de vidro,
espelho transparente do teu corpo
prolongado, cristalino,
quase vertical.

Síntese

Porque plantei roseiras,
colhi ventos;
porque nasci auroras,
morri tardes;
porque criei canções,
ouvi silêncios;
porque andei espaços,
achei vazios
porque me fiz sorrisos,
fui lágrimas;
porque voltei,
anoiteci.

A Oeste de Galahad (excertos)

Quando em tempos de mim
começam ocasos,
viagem
retorno inexorável,
quero-me invisível
repousado eterno,
antes que se fragmentem os dias.
Quero-me eterno
no magma invisível de Castor.

....................................................................

Não me importa mais a morte.
A morte,
quando me alcançam seus mistérios,
ensina-me apenas a morrer.

Importa agora a vida.
O mistério de viver.
A vida,
nos repetidos recomeços,
sempre será fascinante labirinto.
Adoecida
ou suspensa por um fio quebradiço,
existe a esperança.
Vidas semelhantes manipulam
invisíveis rocas quânticas
para impedir o fim
e prolongar o tempo.

Um comentário:

  1. profunda e com nuances de mistérios esses poemas, muito lindo. Parabéns poeta.

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