Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Lara de Lemos

A Teia

A teia se tece
de grade sem ferro
do negro sem fresta
do muro sem pedra.

A teia se tece
do árduo da espera
do aço da espada
e sua ameaça.

A teia se tece
da fala da insídia
da rede que enreda
na mesma cilada.

A teia se tece
de liça, contenda
açoites, cobiça
invídia, solércia.

A teia se tece
de nomes antigos
de amigos perdidos
no elo das celas.


Poema de Múltipla Escolha - Faça seu Poema

Em que tempo vivo
em que hora? de aço ( )
de água ( )
de mágoa ( )
de arma ( )

em que tempo vivo
em que hora? de faca ( )
de ferro ( )
de fúria ( )
de fuga ( )

em que tempo vivo
em que hora? de canto ( )
castigo ( )
cegueira ( )
cadeia ( )

em que tempo vivo
em que hora? de teia ( )
de muro ( )
de usura ( )
de guerra ( )


Da reistência

Cantarei versos de pedras.

Não quero palavras débeis
para falar do combate.
Só peço palavras duras,
uma linguagem que queime.

Pretendo a verdade pura:
a faca que dilacere,
o tiro que nos perfure,
o raio que nos arrase.

Prefiro o punhal ou foice
às palavras arredias.
Não darei a outra face.



José Godoy Garcia

Minha mão se fosse a sua minha lembrança...

Minha mão se fosse a sua minha lembrança
meu corpo se fosse o seu me olhava.
Minha tristeza sua se fosse a minha
minha tristeza me cantava, minha mão
se fosse a nuvem me chovia,
minha carne se fosse a do tigre
me devorava, ela devora, ela,
devora todo dia o meu sonho.
Mas antes, a carne de meu sonho
fica no varal e eu como, meu pé
caminha e sabe bem quem leva,
meu pé leva a Neurália o pó
que apanha nas estradas, um pó
que poderia contar histórias
de meu chão, uma manta de carne
no varal do mundo pra me comer!
O meu sonho no varal fica só osso.

Estrelas Acorrentadas

As estrelas acorrentadas
nas águas dos rios
comeram os dentes de Deus
As estrelas acorrentadas
nas águas dos rios
– mas se é em agosto, em Goiás
as águas dos rios estão vermelhas
– águas dependuradas
no gancho das estrelas no céu
– mas se é em agosto em Goiás
as águas dos rios estão vermelhas
– no chão balouçante
– céu, chapéu de Deus.

Há no rio um

certo ar de indiferença
ao passar do menino. Deixava livre
o medo, o terror, o assombro no largo
espraiado e bravio ou no vertiginoso
cachoar flamejante dos estreitos.
O menino queria dissimular-se
como segurando num ponto de apoio,
não bem olhava a correnteza, já o velho,
muito moroso, se deixava ficar atrás,
amigo do rio.
Ainda longe, o menino caminhava cansado
e com o rio em si, sentindo-o qual
uma lenda que não sairia de sua mente,
no passar da vida e no passar
dos rios do mundo.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Adrienne Rich

Livresque

There hangs a space between the man
and his words
like the space around a few snowflakes
just languidly beginning
space
where an oil rig has dissolved in fog
man in self-arrest
between word and act
writing agape, agape
with a silver fountain pen

Power

Living in the earth-deposits of our history
Today a backhoe divulged out of a crumbling flank of earth
one bottle amber perfect a hundred-year-old
cure for fever or melancholy a tonic
for living on this earth in the winters of this climate.
Today I was reading about Marie Curie:
she must have known she suffered from radiation sickness
her body bombarded for years by the element
she had purified
It seems she denied to the end
the source of the cataracts on her eyes
the cracked and suppurating skin of her finger-ends
till she could no longer hold a test-tube or a pencil
She died a famous woman denying
her wounds
denying
her wounds came from the same source as her power.

Sources - II

I refuse to become a seeker for cures.
Everything that has ever
helped me has come through what already
lay stored in me. Old things, diffuse, unnamed, lie strong
across my heart.
This is from where
my strength comes, even when I miss my strength,
even when it turns on me
like a violent master.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr Fernandes


Papáverum Millôr

Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
... Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos.
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a lage do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.

Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuva ocasionais,
Este sim, imortais.
Até que, um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr

Poeminha de Insatisfação Absoluta

O que me dói
É que quando está tudo acabado
Pronto pronto
Não há nada acabado
Nem pronto pronto
Pintou-me a casa toda
Está tudo limpado
O armário fechado
A roupa arrumada
Tudo belo, perfeito.
E no mesmo instante
Em que aperfeiçoamos a perfeição
Uma lasca diminuta, ténue, microscópica,
Não sei onde,
Está começando
Na pintura da casa
E as traças, não sei onde,
Estão batendo asas
E a poeira, em geral, está caindo invisível,
E a ferrugem está comendo não sei quê
E não há jeito de parar.


Poeminha sobre o Trabalho

Chego sempre à hora certa,
contam comigo, não falho,
pois adoro o meu emprego:
o que detesto é o trabalho.


Poeminha de Louvor ao Strip-tease Secular

Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Egberto Gismonti MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/TcWLGfifKRM

Vera Americano

Filme Noir

Um silêncio oco, de catedral,
passos ressoam,
uma porta bate.

Se você não percebeu,
fui eu,
definitivamente.

Submissão

Um fogo agudo e medonho
me queimou.
(talvez eu tenha morrido
e não saiba que
minha sombra oblíqua na parede
é um retrato).

Escassez


Ah! o engano
a alimentar
a garganta esfolada
sem que verta o cântaro.

Porque toda véspera
é tensa
e pulsa
seu esforço ainda vazio.

A véspera
é pura sede.


Anel

Estupendo fulgor
teu corpo exala
em torno da possibilidade:
soma-se ao aro
o ébrio diamante.

Antonio Carlos Jobim MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/srfP2JlH6ls

http://youtu.be/mGLGxfysqvQ

Ana Luiza

Supõe
Ana Luiza se a guarda cochila
Eu posso penetrar no castelo
E galgar a muralha de onde se divisa
O vale, os prados, os matos, os montes, as flores, as fontes
Luiza

Ana Luiza
Eu fiz esta canção pra você
Que pergunta
Precisa saber
Onde anda Luiza
Luiza
Luiza
Luiza
Por que me negas tanto assim a primavera ?
Se sabes que a última quimera
Existe no mundo de Ana Luiza
Primavera, Ana Luiza
Teus olhos
Em que lago, em que serra, em que mar se oculta ?
Escuta, Luiza
Na brisa uma
canção fala em você
E pergunta
Insiste em saber, onde anda Luiza
Luiza
Luiza
Luiza
Luiza
Eu te amo tanto
Quem há de resistir a todo encanto
Que existe, assiste, em Ana Luiza

Lígia

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou a Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol
E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano
O seu nome eu não sei
Esqueci no piano
As bobagens de amor
Que eu iria dizer
Não, Ligia, Ligia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um chope gelado
Em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome rasguei
Fiz um samba-canção
 Das mentiras de amor
Que aprendi com você
Ligia, Ligia

E quando você me envolver
Nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol
Ligia, Ligia

Luiza http://youtu.be/YKQ_xlNp67I (Em homenagem a minha filha querida do meio)

Rua
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fizP
ra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza Luiza

terça-feira, 20 de março de 2012

Aldir Blanc

http://youtu.be/qM09qTwmaJ4 - Letra de Aldir Blanc e música de João Bosco

Dois Pra Lá, Dois Pra Cá

Sentindo frio em minh'alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá
Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô

Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor
Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me pergunte mais
A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias
No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar
Eu hoje me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz sussurrando
São dois pra lá, dois pra cá.

Incompatibilidade de gênios

Dotô
Jogava o Flamengo, eu queria escutar
Chegou
Mudou de estação, começou a cantar
Tem mais
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar
Sem dó
Falou que por ela eu podia cegar
Se eu dou
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar
Bastou
Durante dez noites me faz jejuar
Levou
As minhas cuecas prum bruxo rezar
Coou
Meu café na calça pra me segurar
Se eu tô, ai, se eu tô
Devendo dinheiro e vem me cobrar
E vem me cobrar
Dotô

Ai, dotô
A peste abre a porta e ainda manda sentar
E ainda manda "sentá"
Depois
Se eu mudo de emprego que é pra melhorar
Que é só pra melhorar
Vê só
Convida a mãe dela pra ir morar lá
Se eu peço feijão, ela deixa salgar
E ela deixa salgar
Calor
Ai, calor
Mas veste casaco pra me atazanar
Só pra atazanar
E ontem
Sonhando comigo, mandou eu jogar
Mandou eu "jogá"
No burro
Foi no burro
E deu na cabeça a centena e o milhar
Ai, quero me separar 
Mestre-sala dos Mares
Há muito tempo / Nas águas da Guanabara / O Dragão do Mar reapareceu, / Na figura de um bravo feiticeiro / A quem a história não escreveu.

Conhecido como o Navegante Negro, / Tinha a dignidade de um mestre-sala / E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas, / Foi saudado no porto / Pelas mocinhas francesas, / Jovens polacas e por batalhões de mulatas.

Rubras cascatas / Jorravam das costas dos santos / Entre cantos e chibatas, / Inundando o coração / Do pessoal do porão / Que, a exemplo do feiticeiro, / Gritava então:

Glória aos piratas, / Às mulatas, / Às sereias, / Glória à farofa / À cachaça, / Às baleias...

Glória a todas as lutas inglórias / Que através da nossa história / Não esquecemos jamais. / Salve, o Navegante Negro, / Que tem por monumento / As pedras pisadas no cais.

Linha de Passe

Toca de tatu, lingüiça e paio e boi zebu
Rabada com angu, rabo-de-saia
Naco de peru, lombo de porco com tutu
E bolo de fubá, barriga d'água
Há um diz que tem e no balaio tem também
Um som bordão bordando o som, dedão, violação
Diz um diz que viu e no balaio viu também
Um pega lá no toma-lá-dá-cá, do samba
Um caldo de feijão, um vatapá, e coração
Boca de siri, um namorado e um mexilhão
Água de benzê, linha de passe e chimarrão
Babaluaê, rabo de arraia e confusão...

Eh, yeah, yeah . . .
(Valeu, valeu, Dirceu do seu gado deu...)
Cana e cafuné, fandango e cassulê
Sereno e pé no chão, bala, camdomblé
E o meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão
Já era Tirolesa, o Garrincha, a Galeria
A Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia
Rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau
E lá vem Portela que nem Marquês de Pombal
Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval
Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs
Meu pirão primeiro é muita marmelada
Puxa saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto
E a pedalada
Quebra outro nariz, na cara do juiz
Aí, e há quem faça uma cachorrada
E fique na banheira, ou jogue pra torcida
Feliz da vida
Toca de tatu, lingüiça e paio e boi zebu
Rabada com angu, rabo-de-saia
Naco de peru, lombo de porco com tutu
E bolo de fubá, barriga d'água
Há um diz que tem e no balaio tem também
Um som bordão bordando o som, dedão, violação
Diz um diz que viu e no balaio viu também
Um pega lá no toma-lá-dá-cá do samba
Do samba, do samba, do samba, do samba

Elis Regina - MPB (Música Poesia Brasileira)

Elis Regina, sua bênção!

http://youtu.be/35FPZR24djg

terça-feira, 13 de março de 2012

Paulinho da Viola MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/LAEXGgWXphs

Coração Leviano

Trama em segredo teus planos
Parte sem dizer adeus
Nem lembra dos meus desenganos
Fere quem tudo perdeu
Ah coração leviano não sabe o que fez do meu
Ah coração leviano não sabe o que fez do meu (mas trama)
Este pobre navegante meu coração amante
Enfrentou a tempestade
No mar da paixão e da loucura
Fruto da minha aventura
Em busca da felicidade
Ah coração teu engano foi esperar por um bem
De um coração leviano que nunca será de ninguém

Timoneiro

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz

Argumento

Tá legal
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim
Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar

segunda-feira, 12 de março de 2012

Edna St. Vincent Millay

Ashes Of Life

Love has gone and left me and the days are all alike;
Eat I must, and sleep I will,—and would that night were
here!
But ah!—to lie awake and hear the slow hours strike!
Would that it were day again!—with twilight near!

Love has gone and left me and I don't know what to do;
This or that or what you will is all the same to me;
But all the things that I begin I leave before I'm through,—
There's little use in anything as far as I can see.

Love has gone and left me,—and the neighbors knock and
borrow,
And life goes on forever like the gnawing of a mouse,—
And to-morrow and to-morrow and to-morrow and to-morrow
There's this little street and this little house.

Bluebeard

This door you might not open, and you did;
So enter now, and see for what slight thing
You are betrayed... Here is no treasure hid,
No cauldron, no clear crystal mirroring
The sought-for truth, no heads of women slain
For greed like yours, no writhings of distress,
But only what you see... Look yet again—
An empty room, cobwebbed and comfortless.
Yet this alone out of my life I kept
Unto myself, lest any know me quite;
And you did so profane me when you crept
Unto the threshold of this room to-night
That I must never more behold your face.
This now is yours. I seek another place.      

Being Young And Green

Being Young and Green, I said in love's despite:
Never in the world will I to living wight
Give over, air my mind
To anyone,
Hang out its ancient secrets in the strong wind
To be shredded and faded—
Oh, me, invaded
And sacked by the wind and the sun!

Sarah Teasdale

Alone

I am alone, in spite of love,
In spite of all I take and give—
In spite of all your tenderness,
Sometimes I am not glad to live.

I am alone, as though I stood
On the highest peak of the tired gray world,
About me only swirling snow,
Above me, endless space unfurled;

With earth hidden and heaven hidden,
And only my own spirit's pride
To keep me from the peace of those
Who are not lonely, having died.


In the end

All that could never be said,
All that could never be done,
Wait for us at last
Somewhere back of the sun;

All the heart broke to forego
Shall be ours without pain,
We shall take them as lightly as girls
Pluck flowers after rain.

And when they are ours in the end
Perhaps after all
The skies will not open for us
Nor heaven be there at our call.

Tonight

The moon is a curving flower of gold,
The sky is still and blue;
The moon was made for the sky to hold,
And I for you.

The moon is a flower without a stem,
The sky is luminous;
Eternity was made for them,
To-night for us.


Come

Come, when the pale moon like a petal
Floats in the pearly dusk of spring,
Come with arms outstretched to take me,
Come with lips pursed up to cling.

Come, for life is a frail moth flying,
Caught in the web of the years that pass,
And soon we two, so warm and eager,
Will be as the gray stones in the grass.

 

domingo, 11 de março de 2012

Olga Savary



Por que escrevo?
Por que sou
pouca e mínima
embora vária,
porque não me basto,
escrevo
para compensar
a falta,
porque não quero ser
só raiz e haste
e preciso do outro
para dar sombra
e fruto.

 

Cada dia a língua
do desejo reinventa
cupins e formigas.

 
Vi o rio nascer
da minha guelra e nela
armadilho o mar.


 
Lembro-me como se fosse hoje:
no mato sem cachorro,
mesmo sem cão, não caço com gato
mas tiro meu cavalinho da chuva,
Tarde aprendi que mais vale
um pássaro na mão do que dois voando
e que uma andorinha só não faz verão.
Apanhando como boi ladrão,
o homem é o lobo do homem,
Ah King Kong,
cada macaco no seu galho.
Sem jeito mandou lembranças.
Boa romaria faz
quem em sua casa fica em paz.
Esperarei sentada. Vivaldi, vida vida,
Noves fora: nada.


Emily Dickinson

Uma palavra morre
Quando é dita —
Dir-se-ia —
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia.



Tive uma jóia nos meus dedos —
E adormeci —
Quente era o dia, tédio os ventos —
"É minha", eu disse —

Acordo — e os meus honestos dedos
(Foi-se a Gema) censuro —
Uma saudade de Ametista
É o que eu possuo —


Noites Loucas — Noites Loucas!
Estivesse eu contigo
Noites Loucas seriam
Nosso luxuoso abrigo!

Para Coração em porto —
Ventos — são coisas fúteis —
Bússolas — dispensáveis —
Portulanos — inúteis!

Navegando em pleno Éden —
Ah, o Mar!
Quem dera — esta Noite — em Ti
Ancorar!



Se meu barco foi ao fundo do mar,
Se encontrou ventos cruéis
Ou se em ilhas encantadas
Recolheu suas velas dóceis;

Ou em que místicos portos
Hoje ele ancora -
Esta a missão de meus olhos,
Baía afora.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Caetano Veloso - Músico Poeta Brasileiro (MPB)

http://youtu.be/0QJy0iPEEPw


Lua de São Jorge

lua de são jorge
lua deslumbrante
azul verdejante
cauda de pavão
lua de são jorge
cheia branca inteira
oh minha bandeira
solta na amplidão
lua de são jorge
lua brasileira
lua do meu coração
lua de são jorge
lua maravilha
mãe, irmã e filha
de todo esplendor
lua de são jorge
brilha nos altares
brilha nos lugares
onde estou e vou
lua de são jorge
brilha sobre os mares
brilha sobre o meu amor
lua de são jorge
lua soberana
nobre porcelana
sobre a seda azul
lua de são jorge
lua da alegria
não se vê o dia
claro como tu
lua de são jorge
serás minha guia
no brasil de norte a sul


Qualquer Coisa

Esse papo já tá qualquer coisa
Você já tá pra lá de Marraqueche
Mexe
Qualquer coisa dentro, doida
Já qualquer coisa doida
Dentro mexe
Não se avexe não
Baião de dois
Deixe de manha, 'xe de manha, pois
Sem essa aranha! Sem essa aranha!
Sem essa, aranha!
Nem a sanha arranha o carro
Nem o sarro aranha a Espanha
Meça: Tamanha!
Meça: Tamanha!
Esse papo seu já tá de manhã.
Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe.
Sou o seu bezerro
Gritando mamãe.
Esse papo meu tá qualquer
coisa
E você tá pra lá de Teerã

Menino do rio

Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção corpo aberto no espaço
Coração, de eterno flerte
Adoro ver-te...
Menino vadio
Tensão flutuante do Rio
Eu canto prá Deus
Proteger-te...
O Hawaí, seja aqui
Tudo o que sonhares
Todos os lugares
As ondas dos mares
Pois quando eu te vejo
Eu desejo o teu desejo...
Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Toma esta canção
Como um beijo...
Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção corpo aberto no espaço
Coração, de eterno flerte
Adoro ver-te...
Menino vadio
Tensão flutuante do Rio
Eu canto prá Deus
Proteger-te...
O Hawaí, seja aqui
Tudo o que sonhares
Todos os lugares
As ondas dos mares
Pois quando eu te vejo
Eu desejo o teu desejo...

O ciúme

Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme
O ciúme lançou sua flecha preta
E acertou no meio exato da garganta
Quem nem alegre nem triste nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta
Velho Chico vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só, eu só, eu só, eu
Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas, na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê
Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme

Lenine - Músico Poeta Brasileiro (MPB)

http://youtu.be/NVnkQr3l8uo

A Balada do Cachorro Louco


Eu não alimento nada duvidoso
Eu não dou de comer a cachorro raivoso
Eu não morro de raiva
Eu não mordo no nervo dormente
Eu posso até não achar o seu coração
E talvez esquecer o porquê da missão
Que me faz nessa hora aqui presente
E se a minha balada na hora h
Atirar para o alvo cegamente
Ela é pontiaguda
Ela tem direção
Ela fere rente
Ela é surda, ela é muda
A minha bala, ela fere rente
Eu não alimento nenhuma ilusão
Eu não sou como o meu semelhante
Eu não quero entender
Não preciso entender sua mente
Sou somente uma alma em tentação
Em rota de colisão
Deslocada, estranha e aqui presente
E se a minha balada na hora então
Errar o alvo na minha frente
Ela é cega, ela é burra
Ela é explosão
Ela fere rente
Ela vai, ela fica
A minha bala ela fere rente

Candeeiro Encantado


Lá no sertão
Cabra macho não ajoelha
Nem faz parelha
Com quem é de traição
Puxa o facão, risca o chão
Que sai centelha
Porque tem vez
Que só mesmo a lei do cão...
É Lampa, é Lampa, é Lampa
É Lampião
Meu candeeiro encantado
Meu candeeiro encantado...
Enquanto a faca não sai
Toda vermelha
A cabroeira
Não dá sossego não
Revira bucho
Estripa corno, corta orelha
Quem nem já fez
Virgulino, o Capitão...
É Lampa, é Lampa, é Lampa
É Lampião
Meu candeeiro encantado
Meu candeeiro encantado...
Já foi-se o tempo
Do fuzil papo amarelo
Prá se bater
Com poder lá do sertão
Mas lampião disse
Que contra o flagelo
Tem que lutar
Com parabelo na mão...
E é Lampa, é Lampa, é Lampa
É Lampião
Meu candeeiro encantado
Meu candeeiro encantado
Meu candeeiro encantado...
Falta o cristão
Aprender com São Francisco
Falta tratar
O nordeste como o sul
Falta outra vez
Lampião, trovão, corisco
Falta feijão
Ao invés de mandacaru
Falta a nação
Acender seu candeeiro
Faltam chegar
Mais Gonzagas lá de Exú
Falta o Brasil
De Jackson do Pandeiro
Maculêlê, Carimbó
Maracatu...
É Lampa, é Lampa, é Lampa
É Lampião
Meu candeeiro encantado
Meu candeeiro encantado
Meu candeeiro encantado...

Hoje eu Quero Sair Só

 

Se você quer me seguir
Não é seguro
Você não quer me trancar
Num quarto escuro
Às vezes parece até
Que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só...
Você não vai me acertar
À queima-roupa
Vem cá, me deixa fugir
Me beija a bôca
Às vezes parece até
Que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só...
Não demora eu tô de volta
(Tchau!)
Vai ver se eu tô lá na esquina
Devo estar!
(Tchau!)
Já deu minha hora
E eu não posso ficar
(Tchau!)
A lua me chama
Eu tenho que ir prá rua
(Tchau!)
A lua me chama
Eu tenho que ir prá rua...
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Huuuum!
Você não vai me acertar
À queima-roupa, não!
Vem cá, me deixa fugir
Me beija a bôca
Às vezes parece até
Que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só...
Não demora eu tô de volta
(Tchau!)
Vai ver se eu tô lá na esquina
Devo estar!
(Tchau!)
Já deu minha hora
E eu não posso ficar
(Tchau!)
A lua me chama
Eu tenho que ir prá rua
(Tchau!)
A lua me chama
Eu tenho que ir prá rua
(Tchau!)
Vai ver se eu tô lá na esquina
Devo estar!
(Tchau!)
Já deu minha hora
E eu não posso ficar
(Tchau!)
A lua me chama
Eu tenho que ir prá rua
(Tchau!)
A lua me chama, chama...
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Tchau! Tchau!
Tchau! Tchau!
A lua me chama
(Tchau!)
Eu tenho que ir prá rua
(Tchau!)
A lua me chama
Eu tenho que ir prá rua...
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!

domingo, 4 de março de 2012

Marcelo Benini

Para ser menino é preciso não ter nome
Ser apenas reconhecido pelos feitos.


Toda varanda gosta de jogar conversa fora


Minhas terras começam
Quando a vista perde
Onde nem óculos,
Nem binóculo de ópera dão jeito,


As coisas que cabem em beira:
                         Um rio
                         Uma vaca
                         Um barranco.


Mineiro:
                 Morro
                 Subo
                 Morro
                 Desço
                 Morro
                 Ando
                 E morro.


A tarde esta presa
Por um jirau de maracujás.
Para que serve um jirau de maracujás
Senão para erguer a tarde?

Miroslav Holub

http://youtu.be/xX4mlA3ydAc

Sabiduria
La poesía no es una espesura,
no importa cuán deliciosa, donde
el asustado cervatillo del sentido pueda esconderse.
Esta es un historia de sabiduría
aliada a las raíces de la vida.
Y por ello,
en lo oscuro
y ciego.
Un niño pequeño aún no atado
por los grilletes de cáñamo del lenguaje.
Con sólo diez palabras tintineantes
en su lengua.
Dentro de la camisa de fuerza de la enfermedad,
lleva más peso del que un hombre puede soportar.
En una caja blanca que asemeja una montaña de cristal,
ante la que todos los caballeros
se desploman de pies a cabeza.
No hay nada en la mente que
no haya estado en la vida.
(En ese entonces
la meningitis tuberculosa
era frecuente.)
Una noche de Navidad obtuvo sus primeros
juguetes, una jirafa y un coche rojo.
Y en el corredor –lejos de este
continente– había un árbol de Navidad
con lágrimas en los ojos.
No hay nada en la vida que
no haya estado en la mente.
Y el niño pequeño jugaba, en medio
de los síntomas y el valle azul
del cuadro de la fiebre,
Y entre dos punzadas lumbares,
no muy distinto
a estar crucificado,
Jugaba con su jirafa y un coche rojo
que representaban
su corona enjoyada de tiempo,
todas las Navidades y
todos los Duendes del mundo.
Y cuando le preguntamos
qué otra cosa quería
Él dijo con una mirada febril
desde el más allá:
Nada.
La sabiduría no está en las multitudes
sino en el uno.
(En ese tiempo
la meningitis bacilar
aún era fatal.)

Era una muy blanca Navidad,
la nieve hasta las raíces,
el hielo hasta el cielo,
Y el tremor de la montaña de cristal
perceptible bajo nuestras manos.
Y él sólo jugaba. 
Por supuesto
Por supuesto,
la primera filosofía
es la filosofía del hígado, de los riñones,
del músculo cardiaco,
islotes pancreáticos,
médula ósea roja,
y células del tallo,
infinitas en su propio estilo.
En el programa socrático del transplante,
ese discurso del cuerpo, cuchillo y electrónica
un yo no espiritual se cruza con otro,
mientras que un virtuoso automático
toca un solo de violín, acompañado por una orquesta
de trompetas mudas.
Mozart debe haber deseado obtener un riñón,
Spinoza estuvo esperando unos pulmones nuevos,
y Kierkegaard necesitaba un corazón,
o por lo menos una válvula.
Todo en vano.
Puesto que
esa carne sangrienta
en las garras de los pájaros de la caverna de la narcosis
es la única sabiduría verdadera
nueva, real,
y transmisible.


sexta-feira, 2 de março de 2012

João Carlos Taveira

Poema da maturidade
(No cinquentenário da Capital)

Brasília abre as asas

sob o céu,
na imensidão do espaço
sobre nós.

Brasília tece uma canção
de amor,
na gradação do azul
de nossa voz.

Há nessa geometria
de acalantos
pequenos sons e arpejos
simultâneos...

Há vida após a vida
em cada traço,
no refazer do sonho
que sonhamos.


Elegia para o poeta Antônio Albino

A cidade perdeu um habitante,
os pássaros perderam um irmão,
eu perdi um amigo.

Em versos cheios de desejo
e volúpia, Albino cantava o amor
com a alma de menino.

(Os homens são mesmo pouco metafísicos.
Ainda recordo sua têmpera
na estóica luta contra o tempo.)

Mas quem virá nos dizer da saudade
que hoje inaugura sua face de âmbar
no dorso desta ausência?

Livre, o poeta viaja e sonha


Soneto de aspiração

Quero prender-te, amada, no meu verso,
que teço no silêncio e na neblina,
onde sejas, do centro do universo,
a métrica resvés e cristalina.


Mas antes, neste sonho, me alicerço
no ritmo desenhado na retina,
para que possas, feita bailarina,
tecer no meu olhar um riso terso.

Quero prender-me a ti e, nesse laço,
poder gravar em nós, em tom fugace,
a música e a palavra num só traço.

Depois, rompendo a teia do disfarce,
que existe entre teu corpo e meu abraço,
hei de tecer na luz a tua face.

Profissão de fé
Amar o metro e a música
na construção do verso,
e a música do verso
na palavra incendida.

Buscar e amar o som
dos hiatos e, ao fim,
dar contenção ao ritmo
com que constróis o verso.

O poema —esse abismo
sem face— há de surgir
na forma clara e exata
das impressões concretas.

Mas amar sobretudo
a precisão do verbo:
pedra fundamental
de tua criação.

Alberto Bresciani

Decisão

Houve um tempo
em que prometeu
esquecer as lâminas
do destino

As trancas das portas
agora falam por nós
e o frio do corredor
é a sua, a nossa proposta.

Opostos

A extensa via
obriga a mãos inversas

Nem a luz é toda
brilha por prismas

Em cada foco
a distância se amplia

Nada nos une
ou decifra.

Estiagem

Esta pele de peixe
resseca ao sol

(quando levaram,
daqui, o mar?)

Mas, vejam, sob o pó
arrasta-se a respiração

No fundo do corpo
encolhe-se a umidade

Vive ali um oceano
vasto azul voraz

E, notem, a morte
não soube o seu nome.

Harmonização

Demorasse a tua mão
um pouco mais
sobre o meu ombro

e me nasceriam asas

Em silêncio
logo o pressentimento
o pacto e  voo:

grades e escarpas
ruindo sob as pernas
cúmplices, entrelaçadas
                     as nossas.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Ferreira Gullar

Uma corola

Em algum lugar
               esplende uma corola
               de cor vermelho-queimado metálica

não está em nenhum jardim
               em nenhum jarro
               da sala
               ou na janela

não cheira
não atrai abelhas
não murchará

               apenas fulge
               em alguma parte alguma
               da vida