Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Alberto Bresciani

Decisão

Houve um tempo
em que prometeu
esquecer as lâminas
do destino

As trancas das portas
agora falam por nós
e o frio do corredor
é a sua, a nossa proposta.

Opostos

A extensa via
obriga a mãos inversas

Nem a luz é toda
brilha por prismas

Em cada foco
a distância se amplia

Nada nos une
ou decifra.

Estiagem

Esta pele de peixe
resseca ao sol

(quando levaram,
daqui, o mar?)

Mas, vejam, sob o pó
arrasta-se a respiração

No fundo do corpo
encolhe-se a umidade

Vive ali um oceano
vasto azul voraz

E, notem, a morte
não soube o seu nome.

Harmonização

Demorasse a tua mão
um pouco mais
sobre o meu ombro

e me nasceriam asas

Em silêncio
logo o pressentimento
o pacto e  voo:

grades e escarpas
ruindo sob as pernas
cúmplices, entrelaçadas
                     as nossas.

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