Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

domingo, 11 de março de 2012

Olga Savary



Por que escrevo?
Por que sou
pouca e mínima
embora vária,
porque não me basto,
escrevo
para compensar
a falta,
porque não quero ser
só raiz e haste
e preciso do outro
para dar sombra
e fruto.

 

Cada dia a língua
do desejo reinventa
cupins e formigas.

 
Vi o rio nascer
da minha guelra e nela
armadilho o mar.


 
Lembro-me como se fosse hoje:
no mato sem cachorro,
mesmo sem cão, não caço com gato
mas tiro meu cavalinho da chuva,
Tarde aprendi que mais vale
um pássaro na mão do que dois voando
e que uma andorinha só não faz verão.
Apanhando como boi ladrão,
o homem é o lobo do homem,
Ah King Kong,
cada macaco no seu galho.
Sem jeito mandou lembranças.
Boa romaria faz
quem em sua casa fica em paz.
Esperarei sentada. Vivaldi, vida vida,
Noves fora: nada.


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