Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

domingo, 20 de maio de 2012

Prisca Agustoni

Companhia

A caligrafia desnuda o corpo
apesar de sua ausência

antes do regresso
os assaltos constantes
e mãos proscritas
ao desejo

esconderijo onde esperam,
os amantes

Abril

A partir de hoje
tenho três meses
para as revoluções.
Dormirei comigo
novamente,
o açafrão nas costelas.
Depois sairei ao dia
cumprindo a alegoria do sol:

a cidade será enfim
um espelho de púrpura.

Pont de la Machine

após a chuva
seus cabelos viraram fogo.
Não sei porque
vivi uma noite longamente
aberta sobre suas alucinações.

Les Mots

      já não consigo
contê-las
 então resvalam.
gota após gota,
precipitando no fundo,
de onde nos espreitam,
felinas,

até que recuperemos
a voz.

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