Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Denise Emmer


A carta

Zarparam meus navios mar adentro
Levando minha carta sem palavras
Quando o dizer tudo é dizer nada
Poemas de horizontes reticências

Se posso discorrer a transparência
Já não me afogo em frases para tanto
E o que posto é uma folha em branco
Para dizer-te árvores sem flores

Não traço dores tampouco alegrias
Antes sorria agora sou um livro
Que abriga extensas pausas sem ruído
Quando o dizer mais é dizer findo.

Os animais que morrem

Os animais que morrem
viram luzes
assombros tão pequenos
entre escuros
espectro sereno
sobre muros

os animais que morrem
são futuros.

Vias avessas

Chegas por vias avessas escuto teus passos surdos
Deuses que movimentam a incoerência do mundo
Regem relógios quietos de horas que não existem
Feliz a insanidade das multidões irascíveis

Se há mares em teus abraços mergulho em sóis afundados
Decifro a nova linguagem que inutiliza tratados
E despedaça países fundidos em calmarias
O amor desgoverna os ventos assombros em abadia

Viajo os rumos trocados as ruas que se invertem
Distâncias que se encontram pernas que se perseguem
Olhos que confabulam dentro de rios quentes
Percebo outras cidades nos vãos de uma nova lente

O que me faz alcançar as caravelas aéreas
Andaimes velozes cumes a indizível matéria
São teus incêndios a luz que espalhas pelo Universo
E por meu corpo acendendo meus lampiões submersos.

Tarde no mar

Tarde e moleza marolas e mascavo
Nada suponho nada sei nada respondo
Não sei o nome do mundo
E seu patrono

Leio jornais em branco folhas velhas
Cartas passadas notícias reviradas
Do que me valem as novas utopias
Se o que me traz o mar
É uma garrafa vazia.

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