Outros papos
terça-feira, 2 de abril de 2013
Eudoro Augusto
Despertar
O telefone é um susto.
Do outro lado da linha
Alguém articula um bom-dia
rouco de pedra.
Engano
Eu não moro mais aqui
Disciplina
Justamente porque a história da minha vida
mais parece um quarto desarrumado
não quero morrer no meio desta desordem.
E assim antes de se matar
Lídia Helena sacode o tapete
estica os lençóis e o edredon
guarda no armário as roupas íntimas
espalhadas sobre o sofá.
O gato assiste a tudo lambendo as patas
em movimentos lentos e regulares.
Ana C
Outra vez nos braços do amor perdido.
Sempre o declive. Sempre a vertigem.
Ás vezes o abismo.
Posso inflar
as velas de outra imagem
e assim navegar teus canais azulados,
minha lúcida amiga.
No céu-da-boca desta manhã
fica apenas um risco:
relâmpago longo como o olhar.
Luz. Outra luz. Louca luz.
O mesmo anjo que beija tua orelha fina
invade o cinema como um vento fictício
Abril
Não tenho mais olhos
pra enfrentar a claridade de abril.
Não tenho mais ouvidos
pra escutar você me dizer
que o amor não tem direito a sinceras desculpas
ou que o ódio não precisa de texto.
Não tenho mais saco
pra passar a vida pensando o inexplicável
ou tentando afastar um sentimento~
lento demais para ser verdadeiro.
e rabisca cicatrizes bem legíveis
no coração deserto do meio-dia.
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