Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

terça-feira, 8 de março de 2016

não fosse





não fosse

                 José Carlos Peliano

não fosse o ventre
o homem não estaria entre
nem de um lado nem de outro
ou em lugar algum

não fossem os seios
o homem não teria os meios
de ir de um lado a outro
ou qualquer um

não fossem os cuidados
o homem seguiria os gados
por um lado e por outro
sem rumo nenhum

não fosse a mulher
o homem não seria sequer
um ser de um lado e de outro
sem lugar, presença, zoom

não fosse o feminino
o homem não viria menino
mas bicho por todas manadas
sem graça, sonhos, fadas

não fosse, não fosse o encanto
a vida não teria o encanto
do segredo sem fim da mulher
que faz do homem o que quer



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